Encerramento de Leak Paravalvular Protésico

O ‘leak’ protésico paravalvular é uma complicação pouco frequente após substituição de uma válvula aórtica ou de uma válvula mitral por uma prótese. Um ‘leak’ corresponde a uma fuga ou passagem inadequada de sangue por um espaço entre a prótese e os tecidos cardíacos (ou seja, pelo exterior da prótese).

Em alguns casos, a existência de um ‘leak’ pode levar a insuficiência cardíaca ou à destruição de células do sangue, com anemia importante. O encerramento do ‘leak’ paravalvular pretende, através de uma técnica percutânea, não cirúrgica, reduzir essa fuga inadequada de sangue, e melhorar as queixas de insuficiência cardíaca ou evitar o aparecimento de anemia.

Um ‘leak’ protésico paravalvular é uma complicação associada à implantação de uma prótese valvular cardíaca, aórtica ou mitral, geralmente por um método cirúrgico. A existência de um ‘leak’ refere-se à passagem inadequada de sangue por um canal que surge entre a prótese e os tecidos do coração, geralmente resultante da disrupção dos fios de sutura cirúrgicos, por motivos técnicos ou por infecção localizada na prótese.

A maioria dos ‘leaks’ paravalvulares são muito pequenos e não causam complicações. No entanto, em alguns casos a fuga inadequada de sangue é suficientemente importante, e pode causar:
insuficiência cardíaca: sensação de cansaço e falta de ar, sobretudo com os esforços, e inchaço das pernas;
hemólise: destruição dos glóbulos vermelhos do sangue, com consequente anemia.
risco aumentado de infecção da prótese valvular (endocardite bacteriana)

Reoperar cirurgicamente a prótese valvular implantada acarreta riscos cirúrgicos muito significativos para muitos doentes. Para estas situações pode considerar-se uma intervenção percutânea (não cirúrgica), que consiste na entrega de um dispositivo que ficará no canal (no ‘leak’), de forma a encerrar o reduzir a passagem inapropriada de sangue.

O encerramento de um ‘leak’ protésico paravalvular é precedido da realização de um ecocardiograma  para se avaliar a anatomia do ‘leak’ e determinar se é tecnicamente possível proceder ao encerramento não cirúrgico. A maioria dos ‘leaks’ têm um formato em crescente ou ovalados, e o trajecto pode ser paralelo à prótese, perpendicular ou serpiginoso. Apesar do estudo realizado para programar o procedimento, e da experiência da equipa, nem sempre é possível prever o resultado final da intervenção.

Os riscos do encerramento de ‘leak’ protésico paravalvular podem incluir:

  • agravamento do ‘leak’ paraprotésico
  • lesões em artérias ou veias periféricas
  • arritmias cardíacas
  • necessidade de pacemaker permanente
  • reacções alérgicas ao agente de contraste administrado
  • agravamento da função renal
  • hemorragia nos locais do acesso vascular
  • necessidade de cirurgia urgente
  • morte (muito raro)

Para realizar o procedimento é necessário utilizar raio-X. Por favor avise se está ou se suspeita estar grávida.

O encerramento de ‘leak’ protésico paravalvular é efectuado na Unidade de Diagnóstico e Intervenção Cardiovascular do Serviço de Cardiologia. A intervenção é efectuada em regime de internamento programado, e a equipa médica dará instruções sobre preparativos e sobre a medicação no período que antecede o internamento.

Antes do procedimento
Antes do procedimento, a equipa de saúde irá rever o seu historial médico, incluindo a indicação para o procedimento, medicação em curso e alergias. Terá também de vestir uma bata hospitalar, e será colocado um barrete de bloco operatório no cabelo. Terá ainda de retirar acessórios, como colares, relógios, brincos e anéis.

Um enfermeiro vai introduzir um ou mais cateteres em veias (habitualmente numa mão ou num braço) para administrar medicação durante o procedimento. Um médico anestesista irá, ainda, introduzir um cateter venoso central (habitualmente na região do pescoço).

Finalmente, será realizada depilação nos locais de acesso arterial e venoso, e será aplicada uma solução desinfectante antes do início do procedimento.

Durante o procedimento
Na preparação para o encerramento do ‘leak’ protésico paravalvular, o enfermeiro vai colocar eléctrodos no peito, braços e pernas para que o ritmo cardíaco seja sempre monitorizado. Pode ser necessário fazer depilação nos locais de acesso vascular, como nas virilhas ou nos pulsos.

A intervenção é efectuada por uma equipa liderada por um médico especialista em cardiologia de intervenção. Estará presente um anestesista que será responsável pela sedação para que o procedimento seja mais confortável; para alguns casos, poderá ser necessária anestesia geral. Estará também presente um especialista em imagem cardiovascular, que, após sedação, irá introduzir uma sonda de ecocardiografia transesofáfica para monitorização e orientação de todo o procedimento.

Depois de administrar anestesia local, o médico vai estabelecer acesso numa artéria ou numa veia, dependendo da localização do ‘leak’ a intervencionar. São habitualmente utilizadas as artérias e veias femorais (nas virilhas). Se o ‘leak’ for de uma prótese mitral, o médico irá estabelecer uma pequena comunicação no septo interauricular que permitirá aceder à aurícula esquerda através da aurícula direita. Será introduzida uma bainha de maior calibre para acesso à aurícula esquerda. Se o ‘leak’ for de uma prótese aórtica, o acesso será arterial, directo na aorta.

Inicialmente o médico terá de atravessar o canal (o ‘leak’) paraprotésico com um fio guia muito fino. De forma muito precisa através do controlo com ecografia cardíaca, o médico irá aplicar um ou mais dispositivos e libertá-los de forma controlada no interior do ‘leak’; esses dispositivos consistem num sistema expansível com uma malha metálica especial. A cada momento é avaliada a necessidade de aplicar mais dispositivos. No final, o médico confirmará o resultado da intervenção, e terminará o procedimento.

A duração da intervenção para encerramento de um ‘leak’ protésico paravalvilar é variável, mas durará pelo menos 2 horas. No entanto, toda a preparação pode levar mais tempo.

Após o procedimento
Quando o procedimento terminar será levado numa cama para a Unidade de Cuidados Intensivos de Cardiologia, onde será acompanhado e monitorizado.

É fundamental manter o repouso após o procedimento, de forma a evitar hemorragia nos locais de acesso vascular. É provável que seja efectuada compressão nas zonas de acesso vascular para controlar hemorragia residual ou para retirar introdutores vasculares que tenham permanecido.

Após alta do internamento será agendada uma consulta de seguimento em ambulatório, e serão feitas recomendações sobre cuidados a ter no regresso a casa e nos dias seguintes. Pergunte à equipa quando será a melhor altura para retomar actividades habituais. No entanto, é recomendável evitar actividade física intensa nos dias subsequentes. Não deve conduzir no regresso a casa.

Contacte o hospital após a alta se:
  • constatar hemorragia activa nos locais de acesso vascular
  • se houver agravamento da dor nos locais de acesso vascular
  • se tiver sinais de infecção, como inchaço, drenagem ou febre
  • se desenvolver dor no peito ou falta de ar.
Em caso de hemorragia grave, aplique compressão no local e chame os serviços de saúde ligando 112.

O Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho participa e organiza regularmente estudos e ensaios clínicos. Poderá ser convidado a participar nesses estudos, e não tem qualquer obrigação de aceitar.

A participação estará sempre dependente de informação prévia e da assinatura de um consentimento informado. O hospital não o incluirá em estudos sem consentimento prévio.

O procedimento de encerramento de ‘leak’ protésico paravalvular é realizado na Unidade de Diagnóstico e Intervenção Cardiovascular da Unidade I do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (Hospital Eduardo Santos Silva, no Monte da Virgem), no piso 2 do Pavilhão Central.

Telefone do hospital: 227 865 100.
Extensão do Secretariado da UDIC: 41206 (8h00-16h00).