Ablação Septal na Miocardiopatia Hipertrófica Obstrutiva

A ablação septal na miocardiopatia hipertrófica obstrutiva é um procedimento usado para diminuir a obstrução causada ao ventrículo esquerdo por um septo interventricular espessado. Neste procedimento é injectada uma solução alcoólica de forma a causar um pequeno enfarte localizado, que reduz a hipertrofia do septo interventricular.

São candidatos ao procedimento as pessoas com queixas de cansaço de esforço associada a obstrução significativa ao ventrículo esquerdo, e que reúnam condições anatómicas que permitam que o procedimento possa ser eficaz e realizado com segurança.

A miocardiopatia hipertrófica é uma doença na qual o músculo cardíaco se torna anormalmente hipertrofiado (ou espessado). Esta hipertrofia causa alterações na forma como o músculo cardíaco contrai e na forma como relaxa. É frequentemente subdiagnosticada porque as formas mais simples são difíceis de identificar, e porque podem não haver sintomas. No caso de algumas pessoas, no entanto, a miocardiopatia hipertrófica pode surgir com espessamento muito significativo do septo interventricular (a parede muscular que separa o ventrículo esquerdo e o ventrículo direito). Esta hipertrofia no septo interventricular pode causar obstrução à saída de sangue do ventrículo esquerdo que, por sua vez, pode levar ao aparecimento de sinais e sintomas de insuficiência cardíaca. Os sintomas da miocardiopatia hipertrófica obstrutiva podem incluir:

  • sensação de cansaço e falta de ar, sobretudo com os esforços
  • sensação de dor no peito associada a esforços
  • aparecimento de arritmias (ritmos cardíacos anómalos)
  • desmaios frequentes, particularmente com esforços.

A ablação septal pode não ser a primeira escolha do médico. O médico poderá recomendar a realização de uma ablação do septo interventricular se tiver sinais e sintomas atribuíveis à doença, e se reunir critérios para que o procedimento possa ser levado a efeito de forma segura. Para realizar a ablação, o médico tem de injectar uma solução alcoólica numa artéria que irriga a porção do septo interventricular a reduzir, de forma a causar um pequeno enfarte muito localizado, e de forma controlada. Em alternativa, o médico poderá recomendar a realização uma miectomia cirúrgica (um procedimento cirúrgico em que é retirada uma porção do músculo do septo interventricular).

O objectivo de qualquer intervenção, cirúrgica ou não cirúrgica, é reduzir o grau de obstrução provocado ao ventrículo esquerdo e, consequentemente, melhorar os sintomas de insuficiência cardíaca e a qualidade de vida.

A ablação septal na miocardiopatia hipertrófica obstrutiva é precedida de um cateterismo cardíaco diagnóstico para se avaliar a existência de artérias que irriguem especificamente a porção do músculo do septo interventricular a tratar.

Os riscos da ablação septal na miocardiopatia hipertrófica obstrutiva podem incluir:

  • enfarte do miocárdio em porções do músculo adicionais à zona do tratamento
  • dissecção e ruptura das artérias coronárias
  • lesões em artérias ou veias periféricas
  • arritmias cardíacas
  • necessidade de pacemaker permanente
  • reacções alérgicas ao agente de contraste administrado
  • agravamento da função renal
  • hemorragia nos locais do acesso vascular
  • acidente vascular cerebral (muito raro)
  • morte (muito raro)

Para realizar o procedimento é necessário utilizar raio-X. Por favor avise se está ou se suspeita estar grávida.

A ablação septal na miocardiopatia hipertrófica obstrutiva é efectuada no Laboratório de Hemodinâmica do Serviço de Cardiologia. A intervenção é efectuada em regime de internamento programado, e a equipa médica dará instruções sobre preparativos e sobre a medicação no período que antecede o internamento.

Antes do procedimento
Antes do procedimento, a equipa de saúde irá rever o seu historial médico, incluindo a indicação para o procedimento, medicação em curso e alergias. Terá também de mudar de roupa para um pijama/camisa de noite ou, em alternativa, para uma bata hospitalar. Poderá ter ainda de retirar acessórios, como colares, brincos e anéis.

Um enfermeiro vai introduzir um cateter numa veia (habitualmente numa mão ou num braço) para administrar medicação durante o procedimento.

Durante o procedimento
Na preparação para a ablação septal, o enfermeiro vai colocar eléctrodos no peito, braços e pernas para que o ritmo cardíaco seja sempre monitorizado. Pode ser necessário fazer depilação nos locais de acesso vascular, como nas virilhas ou nos pulsos.

O médico que realiza a ablação septal é um médico cardiologista, especialista em cardiologia de intervenção. Inicialmente são efectuados passos semelhantes a um cateterismo cardíaco: é administrada uma pequena dose de anestésico local antes de introduzir um pequeno tubo de plástico numa artéria e outro numa veia (geralmente no pulso ou na virilha). Através do acesso na veia, é colocado no ventrículo direito um electrocateter (uma espécie de cabo eléctrico) ligado a um pacemaker provisório, para que se possa fazer estimulação eléctrica do coração, em caso de necessidade. De seguida, o médico utilizará um fio guia e um cateter para chegar ao coração. Não deverá sentir o avanço do cateter dentro do corpo. O médico poderá então administrar uma pequena dose de agente de contraste através do cateter para visualizar as artérias coronárias (as artérias do coração); nessa altura, poderá ter uma sensação leve de calor. O braço em C do equipamento rodará à sua volta durante o exame, e é normal as luzes apagarem e acenderem.

Em seguida, o médico avançará na artéria coronária um fio guia muito fino até entrar numa artéria septal (uma artéria que irriga o septo interventricular). Por cima desse fio guia avançará um pequeno balão que, ao ser insuflado, causará a interrupção de fluxo na artéria septal. Nessa altura, será injectado um produto de contraste visível através de um ecocardiograma transtorácico, de forma a confirmar se a porção do septo envolvida corresponde à zona de interesse para o tratamento. Apenas se confirmar que a artéria septal irriga a porção do músculo a tratar é que o médico procederá a injectar uma pequena quantidade de uma solução alcoólica. Poderá sentir um desconforto no peito durante este momento na intervenção, e será administrada medicação para que fique mais confortável.

A duração do procedimento de ablação septal é variável, mas durará pelo menos 30 minutos a 1 hora. No entanto, toda a preparação pode levar mais tempo.

Após o procedimento
Quando o procedimento terminar será levado numa cama para a Unidade de Cuidados Intensivos de Cardiologia, onde será acompanhado e monitorizado durante alguns dias de internamento.

É fundamental manter o repouso após o procedimento, de forma a evitar hemorragia nos locais de acesso vascular. É provável que seja efectuada compressão nas zonas de acesso vascular para controlar hemorragia residual ou para retirar introdutores vasculares que tenham permanecido.

Após alta do internamento será agendada uma consulta de seguimento em ambulatório, e serão feitas recomendações sobre cuidados a ter no regresso a casa e nos dias seguintes. Pergunte à equipa quando será a melhor altura para retomar actividades habituais. No entanto, é recomendável evitar actividade física intensa nos dias subsequentes. Não deve conduzir no regresso a casa.

Contacte o hospital após a alta se:
  • constatar hemorragia activa nos locais de acesso vascular
  • se houver agravamento da dor nos locais de acesso vascular
  • se tiver sinais de infecção, como inchaço, drenagem ou febre
  • se desenvolver dor no peito ou falta de ar.
Em caso de hemorragia grave, aplique compressão no local e chame os serviços de saúde ligando 112.

O Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho participa e organiza regularmente estudos e ensaios clínicos. Poderá ser convidado a participar nesses estudos, e não tem qualquer obrigação de aceitar.

A participação estará sempre dependente de informação prévia e da assinatura de um consentimento informado. O hospital não o incluirá em estudos sem consentimento prévio.

O procedimento de ablação septal é realizado na Unidade de Diagnóstico e Intervenção Cardiovascular da Unidade I do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (Hospital Eduardo Santos Silva, no Monte da Virgem), no piso 2 do Pavilhão Central.

Telefone do hospital: 227 865 100.
Extensão do Secretariado da UDIC: 41206 (8h00-16h00).