“No princípio não havia nada, ou pouco mais que nada. Por isso podemos dizer, com toda a legitimidade, que o Serviço de Cardiologia deste Centro Hospitalar foi feito por nós.”
(Dr. Duarte Correia, in Cardiologia de Gaia, um Percurso de Excelência, 2015)
Passaram já bem mais de 25 anos da criação do Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho. Esta é uma história, resumida, pelos olhos de quem a viveu, pelos olhos de quem fez história.
“Visto assim, olhando para os anos que passaram, lembrando o dia a dia, o trajecto que percorremos, comparando com o que é hoje – é bem natural que estejamos orgulhosos dele, e do que fizemos.
No princípio, vindos do Hospital Distrital, havia 2 médicos, uma sala e um electrocardiógrafo. Aos quais se juntaria em breve outro cardiologista. A primeira grande luta, quase um mendigar, foi a aquisição dum ecocardiógrafo Irex Kontron em Fevereiro de 1982. Modo M, que era o que havia na época. E que, pouco tempo depois, convencia o Director Clínico da sua utilidade quando permitiu diagnosticar pela primeira vez neste hospital uma endocardite bacteriana, em doente com síndrome febril prolongado, sem diagnóstico, internado na Cirurgia Torácica (que existia já no antigo Sanatório).
Modo M, 2D, Doppler a preto e branco, Doppler a cor, eco de contraste, color kinesis, deteção automática de bordos, eco transesofágico, eco dobutamina, doppler tecidular, strain e strain rate, 3D… O Serviço viveu e cresceu neste domínio à medida que a tecnologia se desenvolvia, estando sempre na vanguarda, na liderança do seu uso clínico, sem nunca se atrasar, até chegar ao grau de excelência que tem hoje.”
(Dr. Duarte Correia, in Cardiologia de Gaia, um Percurso de Excelência, 2015).
O Serviço teve o impulso maior no sentido do futuro com a criação da Unidade de Cuidados Intensivos de Cardiologia em Outubro de 1990.
“A Unidade Coronária abriu em outubro de 1990, inicialmente com 3 camas, com uma equipa médica reduzida, mas muito empenhada e dedicada, que trabalhava muitas horas fora do seu horário normal; bem como uma equipa de enfermagem rigorosamente selecionada, competente, disponível e de uma dedicação extrema. Os doentes dispunham de monitorização electrocardiográfica e hemodinâmica invasiva.
Foi a primeira Unidade Cardiológica, penso, a nível do país a fazer ventilação respiratória invasiva, uso de balão intra-aórtico, bem como, nos doentes mais graves, assistência ventricular mecânica. Os doentes internados nesta Unidade foram sendo progressivamente de maior gravidade, tornando-se numa Unidade de referência para onde eram transferidos doentes de vários Hospitais, sobretudo do Norte do País.
Com a abertura do Laboratório de Hemodinâmica, o diagnóstico invasivo e o tratamento foram melhorados, tornando-se este mais precoce. A trombólise foi progressivamente substituída pela angioplastia primária, sendo esta a terapêutica atual de eleição. O aumento de médicos no Serviço permitiu a implementação de uma equipa médica fixa com melhoria do seguimento dos tratamentos. Em 2013 é transferida para novas instalações, mais amplas e com melhores condições.
Actualmente podemos dizer que a Unidade Coronária é uma verdadeira Unidade de Cuidados Intensivos Cardíacos, unidade de referência como atesta a quantidade de médicos internos de cardiologia, de medicina interna e outras especialidades que a procuram para fazer estágio.
O Laboratório de Hemodinâmica iniciou actividades a 1 de Abril de 1992.
“A equipa médica era formada por apenas um médico com experiência para a realização dos exames mas com disponibilidade de 24 horas e abertura total para transmitir os seus conhecimentos aos restantes elementos, que rapidamente adquiriram as condições para se tornarem autónomos. Uma equipa de enfermagem competente e dedicada, foi fundamental para o seu arranque e excelência dos exames efetuados. Numa primeira fase eram efetuados exames de diagnóstico bem como angioplastia electiva. Em julho de 1993 é efectuada a primeira angioplastia com implantação de “stent” metálico (..).
O quadro médico inicial foi aumentando com novos elementos e sobretudo adquiriu grande experiência, estando disponível 24 horas por dia o que permitiu implementar a angioplastia primária, dando apoio à Unidade Coronária bem como a Hospitais da Zona Norte. Em 2006 é transferido para novas instalações com duas salas de hemodinâmica, o que permitiu um aumento substancial dos exames efectuados, a melhoria da qualidade, a implementação de novas técnicas, bem como de tratamentos invasivos mais avançados. De todos os que se realizam neste laboratório quero destacar a implantação percutânea de válvula aórtica (TAVI), a primeira efetuada a nível Ibérico.
O Laboratório adquiriu um elevado nível de sofisticação, sendo considerado um Laboratório de referência. Tudo foi alcançado com muita competência, dedicação, disponibilidade e visão de futuro. Adquiriu certificação de qualidade em 2013. As novas instalações dispunham de uma sala com equipamento para Angiotac que, permitia o diagnóstico e rastreio da doença coronária bem como das doenças da aorta e de outros vasos. O seu trabalho foi progressivamente aumentando, tornando-se uma técnica fundamental para diagnóstico mais precoce de várias doenças.
Nas mesmas instalações foram criadas as condições para erguer uma Unidade de Eletrofisiologia e Arritmologia, com duas salas, uma para implantação de pacemakers, outra para o tratamento de arritmias e de ressincronização na insuficiência cardíaca. Esta Unidade formada por médicos com grande preparação técnica e prática para estudo e tratamento das várias patologias desta área, foi progressivamente aumentando a sua competência, estendendo-se a todos os campos da eletrofisiologia, sendo possível com toda a segurança efetuar várias técnicas de tratamento invasivo em várias patologias. A melhor maneira de a confirmar como Unidade de referência é a quantidade de doentes enviados quer do ambulatório quer de outros Hospitais, para serem estudados e tratados, bem como o número de médicos de cardiologia de outras instituições que efetuam aí o seu estágio.
Com a aquisição de um equipamento de ressonância magnética pelo Hospital e, após longas reuniões e batalhas, foi possível facultar um horário para a realização de exames cardíacos. Após um médico do Serviço ter efetuado um estágio em Londres num Serviço de referência, deu-se início à execução de exames em junho de 2009.
Foi desde sempre prática do Serviço não iniciar uma nova técnica ou tratamento inovador sem que um dos seus elementos efetuasse um estágio, nunca inferior a 1 ano, em Serviço de referência no estrangeiro ou, em alternativa, a deslocação ao nosso Serviço de médicos com prestígio e experiência para efetuar e supervisionar essas técnicas ou tratamentos inovadores.
Em colaboração com Serviço de Fisiatria, deu-se início em 1993 a um Programa de Reabilitação Cardíaca, um projeto pioneiro num Hospital do SNS em Portugal; com poucos meios, mas com muita dedicação e entusiasmo dos elementos que implementaram o programa, foi progredindo com óptimos resultados e sobretudo com uma grande aderência dos doentes seleccionados, que não poupavam elogios ao programa. (…)
A Consulta externa e os meios de diagnóstico não invasivo foram transferidos para as atuais instalações em 9 de julho de 2010. Apesar de algumas deficiências, por nós alertadas mas não atendidas, estamos hoje melhor e satisfatoriamente instalados. (Dr. Lino Simões, in Cardiologia de Gaia, um Percurso de Excelência, 2015)
No ano actual, o Serviço conta com várias unidades funcionais, e centenas de profissionais. São médicos, enfermeiros, técnicos, assistentes operacionais e administrativos, que contribuem, em conjunto, para prestar cuidados de saúde cardiovascular à população que chega ao Serviço, que são bem mais de setecentos mil. Cada vez mais procurado pelos utentes, é um Serviço tecnologicamente avançado, com uma equipa de pessoas com espírito de missão.
E é um Serviço de portas bem abertas.
“Com todas as suas insuficiências, imperfeições e carências, o Serviço de Cardiologia deste Centro Hospitalar assenta em bases que lhe conferem um amplo e histórico reconhecimento e um inalienável valor no contexto social. A reconhecida responsabilidade e competência dos que aqui trabalharam e trabalham dando o seu melhor, o desenvolvimento de toda a tecnologia de ponta, o assombro de uma cardiologia de intervenção de vanguarda, o respeito pela igualdade dos cidadãos, o respeito pelos direitos aos cuidados de saúde seja qual for o estrato social, a sólida experiência, a humanidade e o sentido social tornam este Serviço de Cardiologia numa garantia segura de um futuro bem melhor e muito mais promissor.
Por aqui têm passado legiões de doentes, roubados à dor e à morte por força da competência, da sabedoria clínica, da tecnologia, da humanidade e do carinho. Ao fim de tantos anos, decorridos desde essa saudosa manhã de sol em que a nossa vida começou por estes lados a mudar de rumo, aproveitamos para deixar aqui, bem expressa e com conhecimento de causa, baseados no testemunho desses mesmos doentes, a nossa admiração pelo Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, um exemplo, entre outros, da excelência que pode acontecer dentro da arte médica e dentro de um verdadeiro SNS.”
(Dr. Adão Cruz, in Cardiologia de Gaia, um Percurso de Excelência, 2015).